O Monstro na Árvore de Natal

 


As luzes cintilavam. Ainda assim, os duendes coloridos que estavam pendurados entre bolas e laços na pequena árvore de Natal, a qual estava no canto da sala do apartamento metropolitano, se vangloriavam de serem mais aprazíveis aos olhos do que a pequena miniatura de zumbi, essa que ficou presa no pilar de plástico das folhas artificiais. Isso desde o último ano, quando as quinquilharias de festas se misturaram no fundo do armário escuro.

Os risos sarcásticos ou olhares julgadores denunciavam a presença alienígena no recinto:

"Esse tom de verde na pele putrefata, não é o correto!"  - Soltou com tom de deboche um dos duendes de pele verde, mas um verde que comunicava esperança, acolhimento... era elegante! Natalino!

"Sim! Qualquer pessoa com senso de arte sabe que o verde no tom errado lembra morte" – Complementou o amigo com a pele verde refletindo as luzes de Natal que tomavam a sala de estar.

Ao fundo, gargalhadas estrondosas e estridentes de duendes iluminados compunham o tom do diálogo...

"As luzes são fascinantes..." – Até que soou a voz rouca, sombria e com tom de dor, vinha de perto da base de plástico. Continuou - "...na meia luz e piscando, até que disfarçou o tom triste do verde musgo da minha pele... estou quase me passando por um de vocês"

Uma oclusão de gargalhadas de duendes se manifestou por toda a sala. Os anjos de Natal pendurados na janela se viraram assustados pra tentar entender a situação, mesmo que tenha sido em vão.

Até que um duende despencou do alto da árvore. As gargalhadas cessaram instantaneamente! Todos os outros se contorceram na tentativa de compreender o que havia acontecido. Apenas alguns olhares dos curiosos alcançaram o duende que quicou sobre a mesa de vidro e rolou até a sua beirada, ainda zonzo com a queda, não teve forças pra pedir ajuda. Antes mesmo que começassem a especular, uma voz rouca e forte ecoou por toda a sala:

"Se mais algum de vocês rirem, o mesmo acontecerá... mesmo que seja um a um... todos irão!"

O silêncio sepulcral, tal como num funeral era acompanhado de fungadas de narizes chorões. O último duende ao pé da árvore pode ver urina escorrendo perto de si. Alguém acima não se conteve de medo!

A voz rouca e forte prosseguiu: “Não admito esse tipo de atitude na minha árvore” – a voz anciã vinha do topo, bem próximo da estrela – “Quando chega janeiro, vamos todos juntos para o armário escuro, nossos gorros natalinos se misturam a morcegos, serpentinas e cestos de ovos de páscoa...”

Papai Noel, do topo da árvore, com a sabedoria anciã liderava seu reino. O silêncio sepulcral voltou a tomar a sala, entretanto, os narizes chorões foram substituídos por olhos arregalados e reflexivos...

“Como se chama?” – Perguntou um dos duendes se virando para o zumbi.

“Como era, na caixa de Halloween?” – Outro duende arrependido tentava interagir.

“Meu nome é Regis... ah, era interessante! Lá, eu sou como o Papai Noel é por aqui... e... conversávamos sobre tudo, mas o que mais comentávamos era sobre a beleza que vocês trazem em dezembro. São muito admirados por lá... uma inspiração para o nosso trabalho em outubro...”

Papai Noel piscou para Regis, enquanto todos os duendes ficaram cabisbaixos. Notaram que só olhavam para as luzes de Natal! Não enxergavam a beleza das luzes alheias as suas realidades...

Graças a Regis, entenderam que quando chegasse janeiro, as quinquilharias de festas se misturariam outra vez no fundo do armário escuro...


D'AUMON