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Composição da imagem: D'AUMON |
Esse contato só é possível porque você morreu! Digo,
provavelmente! É que também existe a possibilidade de ser uma EQM; ou um sonho
lúcido; ou de um escritor sul-americano ter alcançado, através do contato com o
TODO, as minhas ideias e, mesmo sem consciência disso, decidiu transmiti-las pra
você!
Whatever, eu quero
que você fique em paz, respire, diafragmaticamente, três vezes e entenda que a morte
não é o fim. E se ela não é o fim, de alguma forma isso significa que você não
sabe se está morto ou vivo... entende?
Não precisa ficar acanhado, vocês não conseguem lidar com
facilidade com algo que não seja humano, não é mesmo? Relaxa e curte o momento.
Nós somos da mesma energia, estamos aqui dentro desse mesmo propósito... É
muito goodvibes nossa relação...
Tô tão por fora desse
papo de deus quanto você. A gente também é uma energia manifesta sem clareza de
onde se oriunda. Imagina o que é isso! Vagamos por essa infinita highway, cercados de matéria escura e
coisas explodindo, sem saber se estamos na direção certa.
“Vagamos” não é sobre você! Sossega. Falo de mim e dos
outros iguais a mim, que tem em si outros semelhantes a vocês.
A gente não é VIP, honey.
Estamos num mezanino do universo de onde é possível apreciar o show, mas não
rola um meet and great com o todo
Poderoso, ou Poderosa, ou Poderose!
De qualquer forma, o que precisa ficar claro é que Maia não
é um nome presente na lista de credenciais pro backstage... Ah, eu divaguei por muito tempo, né? – Maia sou eu!
O negócio é o seguinte: vim contar duas pequenas historinhas
pra você, pra exemplificar o que acontece com a humanidade. Vocês estão sempre
se perguntando o que rola pras vidas de vocês serem tão complicadas como são. ..
Tudo começa em mim! Eu me entendi como um Ser igual você
quando tinha sete anos. Foi quando decidi que criaria tudo isso que vocês
enxergam, sentem, vivem... e o cara lá de cima decidiu que vocês poderiam ter
essa coisa de livre arbítrio. Fui relutante a ideia, mas como não tenho acesso
ao big boss, eu fico por aqui mesmo,
fazendo meu trabalhinho e conjecturando as ações do chefe junta aos outros, lá na mesa do
cafezinho.
Conclusão, precisei pensar em como usaria essa coisa de livre
arbítrio no meu enredo. Tive uma ideia GÊ-NI-AL, tanto que o ser todo poderoso
nunca interviu nisso.
Presta bem a atenção nisto: Na Terra há um rodízio de
pessoas pra desentupir a privada por dia. Isso mesmo! A cada dia um número
específico de acordo com a matemática do “foda-se! eu que escolho” são submetidas
ao processo e suas privadas entopem. Elas precisam desentupir pros eventos
continuarem seu processo natural...
Vamos entender o efeito catastrófico de pular a sua vez na
hora de desentupir a privada. Temos essa pessoa X – Isso não traz o tom lúdico
necessário – Essa é a Velma: uma garota brasileira de 27 anos, ela gosta de
Legião Urbana, mas não interrompe o churrasco com o violão. Aliás, ela não sabe
tocar violão. A Velma nasceu num subúrbio de classe média, em outras palavras,
ela nasceu num ambiente pobre, não teve muito tempo pra estudar música. Ela se
formou em T.I.
Velma veste muito a cor rosa, mas gosta mais de laranja.
Entretanto, acredita que o laranja não combina com a sua pele. Ela não gosta de
decotes e só usa tênis. Já viu cinquenta e quatro vezes o filme Club da Luta. E
costuma ler no ônibus.
Velma tem um salário muito especial. Ela não precisaria de
ônibus...
Por que a Velma anda de ônibus, Maia? A resposta é simples!
Velma desentupiu a privada sempre que foi a sua vez. Ela
conhece a realidade dura. E por conhecer, sabe que existem milhares de pessoas
espalhadas pela sua cidade com dificuldades de inúmeras naturezas. Assim, Velma
percebeu que não precisa usar seu carro todo dia pra fazer um percurso em cinco
minutos, quando na verdade, ela pode fazer de ônibus, mesmo que por dez minutos! Velma
sabe os impactos ambientais e na mobilidade urbana que suas ações tem.
Parabéns pra Velma!
Todas as vezes que um pedaço de fezes saltou do fundo da
privada em seu braço, Velma refletiu sobre o coletivo! O quanto é importante
você limpar sua própria sujeira...
Agora, imagina você se Scooby pensasse assim. Seria
perfeito! Mas Scooby é milionário. Nasceu numa família muito rica e não sabia
que existia pobreza até os dezenove anos. Ele não gostava de arte, porque
passava maior parte do seu tempo viajando... Scooby gostava de vestir roupas de
grife. E não come queijo...
Quando chegou a vez de Scooby desentupir a sua privada, a
coisa não rolou como um processo natural. Ele deixou de usar o seu banheiro
particular por um dia, usando apenas o lavabo da mansão. Enquanto esperava por Fred, o jardineiro que da família, para desentipir sua privada! Assim,
Scooby promoveu o Efeito Descarga!
O efeito descarga é quando você aperta um simples botão, ou
puxa uma inocente cordinha e a água desce com seus excrementos pela tubulação.
Um ato corriqueiro, para o qual você não desprende muito tempo de reflexão, mas
que em algum momento desemboca no mar. Aí é o caos completo: chega coco, papel
e muitos restos de comida; mas chega fio dental, plástico de toda sorte,
óleo... é quando você percebe que uma quantidade pequena de óleo de uma dona de
casa da zona norte do Rio de Janeiro, se junta em algum momento com a pequena
quantidade de óleo de uma estudante de medicina, que mora numa quitinete no
interior do estado. E o problema cresce...
Quando Fred chega em casa e reclama com sua família da
desgraceira que é isso, Daphne, a sua filha mais velha, se revolta com a
humanidade, gera em seu mais íntimo ser a vontade de explodir todo o planeta!
Mas não é porque Daphne é má. Ela entende como é degradante o momento de
desentupir uma privada mesmo sendo supostamente pago pra isso...
E mesmo não sendo a vez de Fred, ele foi obrigado a se
ajoelhar e lidar com excrementos de terceiros, pra resolver um problema que não
era o seu. Aqui, é a ruptura com o processo natural das coisas. Se Scooby
aceitasse que era o seu lugar na fila pra desentupir a privada, Fred não
reclamaria com a família sobre a bosta do Scooby, o que evitaria a explosão de
ódio à humanidade em Daphne, quebrando todo um ciclo de horror...
Um ciclo sem fim! Daphne saiu aquele dia com muita vontade
de lutar. Passou num posto de conveniência e decidiu comprar cigarros – mesmo
que ela não fumasse – quando do banheiro do posto, Velma saiu com olhar de
nojo, se encaminhou até o lado de Daphne e falou como um sussurro para a moça
do caixa:
- O banheiro está entupido, não consegui nem usar...
Daphne, ainda com a explosão de ódio à humanidade em seu
interior, teve seus sentidos ausentes. E toda a sua fúria saiu do coração e
vibrou por seu corpo até o seu punho rígido. Essa energia ultrapassou a sua
matéria e atingiu o olho esquerdo de Velma. A desenvolvedora de software caiu
desacordada no chão, mas recobrara a consciência logo em seguida, ouvindo os
gritos de Daphne:
- Larga de ser asquerosa, deixa de ser desumana! Você quer
que a moça desentupa? Você sabe o quanto é horrível e degradante? – Antes de
concluir o raciocínio, Daphne correu chorando em direção à porta e se foi.
Velma se levantou tonta e revoltada com a aparente injustiça
cometida contra sua honra. Um homem a ajudou a se levantar, a carregou até a
saída da loja de conveniência. No posto, ambos ficaram de pé, um de frente para
o outro. O lusco-fusco criara uma silhueta romântica. O homem abriu uma cerveja
importada e começou a beber, quando em um dos intervalos de suas bebericadas,
atuadas com um charme forçado, ele disse:
- Essas pessoas são selvagens! A falta de educação nos leva
a esses momentos de barbárie. – Ele pausou e mexeu no nariz tentando ser
charmoso – Você já está melhor?
- Sim! Só queria poder ter revidado.
- Seja superior... isso é gente sem civilidade. Mas, me conta:
O que rolou, afinal?
- Eu falei pra moça do caixa que a privada estava
entupida... a garota me socou e me chamou de desumana...
- Nossa! Uma privada entupida? Que bobagem... por coisa
pouca. Ontem mesmo, minha privada entupiu e, hoje mais cedo, o meu jardineiro
foi, lá, e desentupiu rapidamente... – Velma estava tonta com toda a situação e
não tinha paciência para um playboy. Ela se despediu e sua silhueta desapareceu
no lusco-fusco do plano aberto descrito antes do diálogo. Enquanto Scooby
colocou as outras garrafas de cervejas importadas em seu carro e seguiu para
uma festa numa cobertura em Ipanema.
Fim!
Essas são as duas historinhas que te mostram como a vida
poderia ser mais perfeita pra todo mundo. Entretanto, muitas pessoas como
Scooby seguem pulando sua vez de desentupir a privada. O que nos traz a esse
cenário caótico, em que por mais que remexamos nas estruturas que vocês mesmos
criaram, não vemos possibilidade de organizar a coisa toda.
Esse é o segredo entre as Estrelas!
E se estiver mesmo morto, lembre-se de seguir a Luz, mas
respeitando a ordem...
Beijos, Honey.
D'AUMON